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HISTÓRIA DE DEUSES E HERÓIS - EGITO/AKHENATON

A história do Egito antigo registrou no século XIV a.C. uma inesperada movimentação: o reinado de Amenófis IV, ou Akhenaton, período que marcou a implantação da primeira religião monoteísta do mundo. As mudanças feitas por Akhenaton, que atingiram inclusive as artes, desapareceram ao final de seu governo tão repentinamente quanto surgiram.

AKHENATON
NO REINO DO DEUS SOL

No Egito, terra onde floresceu a maior civilização da Antiguidade, existem centenas de cidades abandonadas, algumas cobertas pelas areias do deserto, outras vizinhas de localidades modernas visitadas por turistas. Entre tais cidades mortas existe uma que constitui um capítulo à parte na história da humanidade, pois foi construída para ser a sede de uma religião nova e revolucionária, sonho de um faraó da XVIII Dinastia, que não pertencia àquela época. São ruínas situadas à margem direita do Rio Nilo, local que os mapas assinalam com a denominação de TELL-EL-AMARNA.
O soberano que ordenou a construção da cidade, chamada então Akhetaton, foi batizado com o nome de Amenófis IV. Não há certeza sobre o ano de seu nascimento. Ele era o herdeiro legítimo do Alto e Baixo Egito, que seus pais, o faraó Amenófis III e a Rainha Tii, governaram de 1413 a.C. até l377 a.C.. O Egito de então dominava a Núbia até a Síria, o Sudão, na região de Méroe, e influenciava todo o Oriente.
O príncipe foi uma criança enfermiça, franzina, porém dotada de bastante personalidade e força de vontade. Numa época em que os sacerdotes de Tebas (a capital do império) possuíam grande poder, o jovem não manifestava temor diante dos deuses, e pouco comparecia às cerimônias realizadas no grande Templo de Amon, principal divindade do panteão egípcio da época.
Amenófis IV subiu ao trono com seu pai ainda vivo, exercendo durante alguns anos a co-regência - uma prática comum no Novo Império, que visava dar ao futuro  governante uma vivência maior frente aos problemas do reino.  Este governo conjunto começou por volta de 1377 a.C.. O príncipe, que era muito jovem - tinha 12 ou 13 anos - estava casado com uma menina da mesma idade, chamada Nefertiti.

A origem de Nefertiti não é bem conhecida, mas uns consideram que ela seria egípcia, de sangue nobre, embora não pertencendo à casa real, ao passo que outros consideram que ela seria uma princesa estrangeira. A falta de documentos que possam elucidar a questão dificulta a solução deste mistério.

Durante os primeiros anos de seu governo, o jovem faraó nada realizou de extraordinário. Nos relevos ele aparece representado caçando leões ou combatendo povos bárbaros. Mas esse período deve ter sido de curta duração, e passados poucos anos o rei já era retratado entre os membros de sua família, primeiro com os pais e posteriormente junto à mulher e às filhas. Nessa nova fase, o soberano mostra um aspecto físico diferente, um corpo disforme, pernas magras e ventre proeminente, constratando com as representações habituais dos governantes - personagens formosas e isentas de defeitos físicos, como se poderia esperar de um deus vivo. Um outro detalhe torna Amenófis IV diferente de seus antecessores. Ele não demonstra respeito por Amon, e desde cedo procura os templos em que existiam imagens de Aton - divindade regional antiga, que tinha o Sol como o verdadeiro e único poder criador, e que não era venerado pelo clero de Tebas. Tais atitudes devem ter preocupado os sacerdotes de Amon, que passaram a prestar mais atenção às ações do Soberano, já considerado suspeito para eles. Para o clero tradicional, deve ter causado inquietação a escolha da cidade de Hermontis para a cerimônia de coroação do novo faraó: isso quebrava a tradição de realizar a cerimônia em Terbas, no templo de Amon. Amenófis IV preferiu outra cidade, justamente no Templo do Sol. Obedecendo ao protocolo, o sumo-sacerdote de Amon se deslocou para o local da coroação, mas o soberano apenas realizou sacríficios em honr ao Sol, não solicitando as bençãos de Amon distríbuidas pelo sacerdote que o representava.

Não se conhece a duração exata do reino conjunto, mas parece ter sido de seis anos. Findo esse tempo, Amenófis III desapareceu de cena, embora não haja indicação de que falecera. Nessa époica, o  novo rei organizou sua sed (a tradicional cerimônia que os faraós realizavam após vários anos de governo, objetivando revitalizar as forças mágicas e recarregar as energias). Estranhamente, Amenófis IV determinou sua  sed no início de seu governo, como se buscasse forças suplementares para uma missão maior. Durante as cerimônias mágico-religiosas do sed, o faraó inaugurou um novo templo em Tebas, dedicado ao Deus-Sol e construído expressamente para a ocasião. Nos meses seguintes ele dirigiu-se constantemente para o local, permanecendo durante várias horas em seu interior, rezando ou meditando. Passado algum tempo, informou aos ministros que resolvera transferir a capital para uma nova cidade, a qual abrigaria a Casa Real e o corpo de servidores diretos do rei. Após sua morte, ele desejava ser enterrado nessa nova cidade. O local escolhido pelo faraó para a capital do reino situava-se numa fértil planície, com árvores e fonte de água. Sua posição à margem do Nilo permitia que os materiais de construção chegassem dos mais diversos pontos do Oriente, num fluxo constante. Além da mão-de-obra normal foram empregados prisioneiros de guerra e presos comuns, o que permitiu uma progressão bastante rápida. Logo no ínicio dos trabalhos o rei informou que a cidade chamar-se-ia Akhetaton  (o "horizonte de Aton"), o que desagradou o clero e surpreendeu o povo.

Nesse período, Amenófis IV não deixou transparecer a totalidade de seu projeto. Os documentos da época não falam da reforma religiosa que estava sendo preparada, mas após quatro anos, quando a cidade já podia receber a família real (visto estarem concluídos o palácio, o quartel da guarda e alguns templos), Amenófis IV comunicou que iria para a nova capital. Mudara seu nome para "Akhenaton"  ("Aton está satisfeito") e pretendia dedicar-se  ao serviço de seu deus, do qual  seria o sumo-sacerdote. Na mesma ocasião, informou que em sua cidade só existiriam templos dedicados a Aton. Com tais medidas, o rei tornava-se o senhor temporal e religioso do Egito, impedindo que, em seu culto, houvesse dualidade e poderes entre o governo civil eo religioso.

A cidade acolheu os trabalhadores e uma série de artistas excepcionais, agora libertos das rígidas normas que agrilhoavam as artes. Pintores e escultores desenvolveram um novo estilo, que os arqueólogos chamam de "Estilo de Amarna", e o resultado foi um movimento semelhante ao Expressionismo. O próprio soberano era retratado de forma naturalista, mostrando suas características físicas e deformidades, contrariando a tradição que apresentava os faraós como deuses, perfeitos e belos. Os escultores retrataram a família real, e o mais perfeito exemplo da arte de Amarna, foi o busto da rainha Nefertiti, descoberto pela expedição germânica de 1886 no atelier do escultor real, Tutmósis, junto a aoutras obras, criadas pelo mestre e discípulos. 

Os sacerdotes de Amon iniciaram uma campanha contra a nova religião, embora mantendo a necessária cautela para não romperem de vez com o faraó.  Akhenaton não deu imprtância aos ataques e tomou outras medidas de impacto, como a de ordenar que no Egito só seria adorado um deus, Aton - medida que não foi acatada senão na capital. E enquanto o rei prosseguia na organização do culto monoteísta e no embelezamento da cidade, seus inimigos prosseguiam em seus planos.

Os sacerdotes de Amon iniciaram uma campanha conta a nova religião, embora mantendo a necessária cautela para não romperem de vez com o faraó.  Akhenaton não deu importância aos ataques e tomou outras medidas de impacto, como a de ordenar que no Egito só seria adorado um deus, Aton - medida que não foi acatada senão na capital. E enquanto o rei prosseguia na organização do culto monoteísta e no embelezamento da cidade, seus inimigos prosseguiam em seus planos. No exterior, o problema era resultante da expansão do império hitita, que rapidamente aumentava sua influência sobre as áreas tradicionalmente fiéis ao Egito, formando alianças com os Estados hostis, como a Babilônia e Assíria. No arquivo de Amarna foram encontradas cartas de reis aliados implorando a Akhenaton mais atenção e apoio militar. Esses assuntos não sensibilizaram o rei, voltado para sua cidade, seu deus e sua família, que ele adorava (isso fica patente nas representações da família resal, onde o soberano aparece abraçando e bejando as filhas e a mulher).

O que diferencia a religião adotada por Akhenaton da tradicional é sua concepção de um deus único, gerador de toda  a vida na terra, representado por um disco solar, com raios prodigalizando vida e bem-estar: uma religião universal, de bondade e amor, aberta a todos e dirigida para o momento presente, ao contrário do culto antigo, voltado para o além-túmulo. Akhenaton era totalmente contrário ao exercício da força, considerando a guerra como uma anomalia que deveria ser evitada a todo o custo. Essa postura deixava seus adversários estrangeiros livres para desenvolver suas políticas expansionistas e formar alianças tendentes a cercar o Egito, isolando-o de seus aliados. A principal obra da cidade era o Templo de Aton, de arquitetura baseada no Templo do Sol de Heliópolis. Pouco restou dele - foi derrubado após a morte de Akhenaton, por ordem direta do sumo-sacerdote de Amon. Pelas descrições, sabe-se que era constituído por uma série de salões sem cobertura, para que o Sol pudesse banhar os fiéis com seus raios, e que permitia acesso a todos os locais exceto um cômodo, fechado por altas paredes e exclusivo do sumo-sacerdote de Aton (o próprio rei). Segundo as inscrições, os intrusos morreriam ao penetrar no recinto sagrado, pois o mesmo era protegido por poderosas forças mágicas.
Colocada em um dos pátios, uma grande estela representava Akhenaton,  acompanhado de seus familiares, adorando Aton, em forma de disco solar. Foi descoberto nas ruínas do Templo por arqueólogos britânicos  após a 1ª Guerra Mundial.  Também foram encontrados alguns dos 365 pedestais ali existentes representando os dias do ano. Estes eram destinados ao recebimento das oferendas dos fiéis. Os alimentos, após serem consagrados pelos raios do deus, eram distribuídos entre os necessitados. Neste aspecto notamos mais uma profunda diferença com a religião tradicional, ávida de ouro e jóias destinadas a enriquecer as confraria de sacerdotes e as estátuas de Amon.

Akhenaton construiu mais duas cidades dedicadas ao Sol. Uma ficava na Etiópia, e era chamada Gem-Aton. Desta cidade existem alguns vestígios, decobertos por arqueólogos ingleses e italianos. A outra, chamada Mis-Aton, situava-se ao norte, talvez na Síria, mas não há dados acerca de sua localização. Ela é  citada  em apenas um documento de arquivo, onde se verifica que foram enviados dois artistas com a missão de erigir uma estela comemorativa.

Os intrigantes sacerdotes de Amon tiveram inúmeras oportunidades para atacar o rei, por sua impiedade pelos deuses tradicionais e por sua incapacidade em resolver os problemas políticos e militares que estavam ocorrendo junto às fronteiras do reino. O povo também não aceitava a religião monoteísta, adorando os deuses antigos;  para a maioria, Aton era apenas um outro deus. Afora esses problemas, o faraó separou-se de Nefertiti após  l5 anos de  matrimônio. Não conhecemos os motivos; sabemos apenas que a rainha abandonou o palácio real, seu marido e suas filhas, e retornou a Tebas. A função de suma-sacerdotisa de  Aton foi exercida por uma filha de Akhenaton, Meryt (cujo marido, Semenkhare, passou a ser co-regente do Egito, juntamente com o sogro). Existem diversas interpretações para a atitude de Nefertiti. A principal e mais verossímil é a de que ela teria se deixado influenciar pelos sacerdotes tebanos e abandonado tudo numa esperança de manter a vida, pois já estaria sendo organizado o assassinato do rei e daqueles que se mantivessem a seu lado. A deserção da esposa deve ter abalado o soberano, e a morte (provavelmente por assassinato) de seu genro e co-regente Semenkhare, ocorrida pouco depois, deixou-o praticamente só. Outra filha, Ankhsepaton, estava casada com um jovem de 12 anos, que talvez fosse filho de Akhenaton com uma princesa de um dos países aliados do Egito. O casamento entre irmãos era uma prática comum no Egito antigo, principalmente na Casa Real. O jovem chamava-se Tut-Ankh-Aton, nome que seria posteriormente mudado para Tut-Ankh-Amon.

O final do reino de Akhenaton foi trágico. Outra filha, a princesa Maketaton, morreu jovem, por razões desconhecidas. Abandonado pela mulher, traído pelos servidores e parentes, o faraó verificou que seus aliados tradicionais se bandeavam para o lado do rei dos hititas.Um dos seus principais aliados, Dushratta, rei do Mittanni, foi assassinado por membros de sua própria guarda, e seu país invadido pelos assírios, aliados dos hititas. A Síria, que durante séculos fora uma colônia egípcia, foi ocupada sem que Akhenaton tomasse qualquer providência de caráter militar. Ele limitou-se a escrever para o rei hitita, Suppiliuliuma, protestando timidamente contra aquela ação e propondo paz, pois a seu ver, a guerra deveria ser evitada a qualquer custo. O hitita respondeu que partilhava das idéias de  Akhenaton sobre a guerra, mas prosseguiu com seus planos de expansão territorial, a custa do Egito. Para os oficiais do exército egípcio, a situação era insustentável. Eles sabiam que ainda eram sificientemente fortes para enfrentar as agressão, mas o moral da tropa caía rapidamente. O rei era  o comandante nominal do exército, mas este, na realidade, estava sob o controle do general Horemheb, que em diferentes ocasiões pediu permissão ao rei para atacar os inimigos - autorização que Akhenaton sempre negou. A situação econômica do reino também era difícil. Sem poder contar com os tributos, que eram enviados enquanto o Egito dominava o Oriente próximo, o rei teve de diminuir o ritmo de construção em que se empenhara para criar novos templos de Aton, e a cidade de Akhenaton parou de expandir.

A morte de Akhenaton nesse momento não espanta. Não sabemos como ocorreu, mas o plausível é que ele tenha sido morto por alguém enviado pelos sacerdotes, ou pelos oficiais do exército, desejosos de passar à ação e reconquistar os territórios perdidos.

O novo faraó foi Tut-Ankh-Amon ("O protetor de Amon"), que subiu ao trono em Tebas, tendo entre seus acompanhantes a sogra e ex-rainha Nefertiti. Ele recebeu a dupla coroa real das mãos do sacerdote de Amon, que o cobriu de bençãos. Nefertiti viveu mais três anos ao lado do genro e da filha, não havendo registros sobre a sua morte. A cidade de Akhetaton foi abandonada e em seguida arrasada pelos soldados comandados pelo general Horemheb. De Akhenaton nada restou. Sua tumba e múmia nunca foram encontradas; é  mais provável que os sacerdotes de Tebas não tenham permitido o embalsamamento do corpo do rei, negando à alma o direito de retornar à vida (o que constituía a mais terrível vingança na religião tradicional).
O grande sonho de Akhenaton durou apenas 17 anos. Sua religião monoteísta foi totalmente extirpada e o culto de Aton proíbido em todo o Egito. O templo que construíra em Tebas foi arrasado e as três cidades criadas para a adoração de Aton derrubadas, e proibiu-se aos egípcios a visitação às ruínas. A herança de Akhenaton também foi trágica. Nefertiti, sobreviveu a seu esposo por apenas três anos. Quanto ao genro, Tut-Ankh-Amon, também morreu jovem, cinco anos após ser colocado no trono - destino que tiveram os familiares de Akhenaton e os sacerdotes que tinham servido ao Deus-Sol. Apenas a princesa Ankhesenamon, cujo nome anterior fora Ankhesepaton, viúva de Tut-Ankh-Amon, viveu mais tempo. Os sacerdotes necessitavam dela para, através de artíficios, criar condições para que alguém de confiança subisse ao trono como soberano legítimo, graças ao matrimônio com uma princesa de sangue real, filha de faraós. No ano de 1335 a.C. o trono do Egito estava ocupado por um novo faraó. Seu nome: Horemheb. Posto: general. Qualificação: fiel aos sacerdotes de Amon, sem jamais ter tido ligações com o culto herético de Aton. Abençoado pelo clero, protegido pelos deuses, ele governaria por mais de 40 anos, morrendo, naturalmente, de velhice. Com Horemheb extingiu-se a XVIII  Dinastia, pois os deuses não lhe deram herdeiro. Sua morte abriu caminho para a ascenção dos faraós guerreiros da XIX  Dinastia, os Ramsés, que derrotariam e destruiriam o império hitita.



TEXTO ADAPTADO DA REPORTAGEM DE AURÉLIO M. G. DE ABREU-REVISTA PLANETA.

AKHENATON É CONSIDERADO O FUNDADOR DA ORDEM ROSA-CRUZ.


2 comentários até agora.

  1. Anônimo says:

    A familia agradece por lembra-lo !!!

  2. Anônimo says:

    eh isso ai gostei e é bem grande né

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