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HISTÓRIA DE DEUSES E HERÓIS - ÍSIS

     Embora o mito de Ísis e Osíris fosse conhecido por todo o Egito, nenhuma fonte egípcia nos fornece todos os detalhes da história essencial. Para encontrá-las em fontes seguras antigas é necessário recorrer a Plutarco (46 - 126 d.C.), filósofo e prosador grego do período greco-romano. Em "Sobre Ísis e Osíris", obra dedicada a Klea, uma sacerdotisa de Ísis e Osíris, ele apresenta um registro sobre tal.
     O texto abaixo foi adaptado de Moralia, de Plutarco (traduzido por Frederick Cole Babitt),  constante no livro OS MISTÉRIOS DE ISIS - SEU CULTO E MAGIA  (Detraci Regula).

REGISTRO DE PLUTARCO SOBRE A HISTÓRIA DE ÍSIS E OSÍRIS

(...) O Sol, quando ficou sabendo do relacionamento de GEB, O Deus da Terra,  com NUT, a Deusa do Firmamento,  invocou uma maldição sobre ela para que não pudesse dar à luz uma criança em qualquer mês  de qualquer ano; mas Thoth, que estava apaixonado pela deusa, casou-se com ela e, mais tarde, jogando com a Lua, ganhou dela a sétima parte de cada um dos seus períodos de iluminação. E de todas as vitórias, ele criou cinco dias e os intercalou, somando-se aos trezentos e sessenta e cinco dias. Os egípcios, até hoje, celebram esses cinco dias como o nascimento dos deuses. Eles relatam que no primeiro dia nasceu Osíris, e na hora de deu nascimento uma voz proclamou: "O Deus de tudo avança para a Luz".  No segundo dia, Hórus nasceu (alguns o chamaram de Apolo e outros de Hórus mais velho). No terceiro dia, Seth nasceu. No quarto dia, nasceu Ísis, nas regiões onde sempre há umidade; e no quinto dia nasceu Néftis (a quem foi dado o nome de Finalidade ou Afrodite, e alguns outros a chamaram de Vitória). É relatado que Néftis se tornou mulher de Seth, mas Ísis e Osíris se apaixonaram e se uniram no ventre da mãe antes de nascer. Hórus nasceu desta união e foi chamado de Hórus mais velho pelos egípcios, e Apolo pelos gregos.

  Um dos primeiros atos atribuídos a Osíris em seu reinado foi livrar os egípcios de seu modo rude e desamparado de viver. Ele fez isso mostrando-lhes os frutos do cultivo, dando-lhes leis e ensinando-lhes a honrar os deuses. Mais tarde, ele viajou por toda a terra, civilizando-a sem a menor necessidade de armas, mas atraindo as pessoas através da fala encantadora e persuasiva combinada com canções e todos os tipos de música.. Durante sua ausência, Seth não tentou praticar nenhum mal, porque Ísis, que governava, estava vigilante e alerta, mas quando o rei voltou para casa, Seth elaborou um plano traiçoeiro e reuniu um grupo com setenta e dois conspriradores. Ele também contou com a ajuda de uma rainha etíope que estava no Egito naquele momento, e cujo nome seria Aso. Seth, tendo medido secretamente o corpo se Osíris e preparado uma bela arca do tamanho correspondente, artistícamente ornamentada, fez com que ela fosse levada à sala onde as festividades aconteciam.Os participantes admiraram muito a arca e Seth prometeu em tom jocoso que a daria de presente àquele cujo corpo se encaixasse perfeitamente dentro da arca. Todos tentaram, mas ninguém conseguiu: então Osíris entrou na arca e se deitou, e os conspiradores correram e a lacraram. Depois levaram a arca para o rio e a soltaram no mar através da foz Tanitic. Até hoje os egípcios consideram essa foz odiosa. Essa é a tradição. É ainda relatado que a data em que isso acontecera foi o décimo dia de Athir, quando o sol passa por Escorpião, e o vigésimo oitavo ano do reinado de Osíris. Os primeiros a descobrir o acontecimento e a levar a notícia ao conhecimento dos homens foram os pans e sátiros que viviam na região próxima a Chemmis, e por essa razão até hoje a repentina confusão e desespero de uma multidão recebe o nome de pânico.  Quando Ísis soube o que aconteceu, imediatamente cortou uma das tranças e vestiu um traje de luto, em um local onde a cidade ainda hoje tem o nome de Copto. Outros acreditam que o nome significa "privação", porque os egípcios expressam esse estado com a palavra Koptein. Mas Ísis procurou a arca por todos os lugares, perguntando sobre seu paradeiro a qualquer pessoa que encontrava, inclusive crianças pequenas. As crianças disseram ter visto a arca e contaram a Ísis o nome da foz do rio através da qual os amigos de Seth jogaram a arca no mar. Desde então os egípcios acreditam que as crianças pequenas têm o poder da profecia e tentam adivinhar o futuro através de presságios encontrados nas palavras das crianças, principalmente quando elas estão brincando em lugares sagrados e gritam qualquer coisa que lhes venham à mente.

(A história também conta que quando Ísis descobriu que Osíris havia se deitado com sua irmã acreditando tratar-se de Ísis, e viu a prova na guirlanda de flores esquecida por Néftis, procurou a criança nascida dessa união, porque Néftis a abandonara imediatamente após o nascimento, por temor a Seth. E quando o menino foi encontrado, após muitas dificuldades e problemas, com a ajuda de cães que conduziram Ísis até ele, foi criado pela deusa e tornou-se guardião e auxiliar de Ísis, recebendo o nome de Anúbis. Acredita-se que ele proteja os deuses do mesmo modo que os cães cuidam dos homens.)

   Mais tarde, segundo o relato,  Ísis descobriu que a arca fora levada pelo mar até a terra de Biblos, e que as ondas gentilmente a depositaram no meio de uma moita de urze. A urze, em pouco tempo, cresceu e se transformou em um belo e grande tronco que envolveu a arca, escondendo-a. O rei daquele país admirando o tamanho da planta, cortou a parte que envolvia a arca, agora totalmente escondida; esta parte foi usada como um pilar para apoiar o telhado do palácio. Ísis tomou conhecimento desses fatos através da inspiração divina de Rumor e, seguindo para Biblos, sentou-se junto a uma nascente, traída e em lágrimas, não conversou com ninguém, exceto as servas da rainha, a quem elas tratou com gentileza, trançando-lhe os cabelos e dando-lhes uma maravilhosa fragrância de seu próprio corpo. Mas quando a rainha observou as servas, foi tomada de um anseio pela mulher desconhecida, pelo penteado e pela fragrância de ambrosia. Ísis foi chamada e tornou-se tão íntima da rainha que esta confiou-lhe seu bebê para tomar conta. Dizem que o nome do rei ara Malcander; alguns afirmam qua a rainha se chamava Astarte, outros a chamam de Saosis, outros, ainda, de Nemanus, a quem os gregos chamavam de Atenas.

  A história conta que Ísis amamentou a criança, oferecendo-lhe o dedo em vez do seio, e à noite queimava as porções mortais de seu corpo. Ela própria se transformava em andorinha e voava ao redor do pilar em prantos e lamentações, até que a rainha, vendo o bebê em chamas, gritou e, portanto, privou-o da imortalidade. Então a deusa se revelou e pediu o pilar que servia de suporte para o telhado. Moveu-o com grande facilidade e cortou a madeira que cercava a arca: após envolver a madeira com um tecido de linho e derramar perfume sobre ela, a deusa deixou-a aos cuidados dos reis; e até hoje o povo de Biblos venera a madeira que preservou o santuário de Ísis. Depois, a deusa se jogou sobre o caixão, com um lamento tão horrível que o filho mais novo dos reis morreu na mesma hora. Ísis ficou com o filho mais velho e, tendo colocado o caixão no barco, partiu do país. Como o Rio Phaedrus provocava um vento muito forte pela manhã, a deusa ficou com raiva e secou seu fluxo. No primeiro local onde encontrou privacidade, ela abriu a arca e encostou o rosto no de Osíris, acariciando-o e chorando. Uma criança aproximou-se silenciosamente e viu o que havia dentro da arca. Quando a deusa percebeu isso, virou-se para a criança com olhar de raiva; esta, não resistindo ao medo, morreu. Alguns afirmam que o menino caiu no mar. Ele também recebe honras por causa da deusa, pois acredita-se que Maneros, sobre quem os egípcios cantam nas festividades, é essa criança. Outros, no entanto, dizem que o nome do menino era Palestino ou Pelúsio, e que a cidade fundada pela deusa recebeu o nome em homenagem a ele. Conta-se ainda, que esse Maneros, o tema das canções egípcias, foi o inventor da música. Segundo os relatos, Ísis seguiu para o local onde estava seu filho Hórus, criado por Buto, e colocou a arca em um local escondido; mas Seth, que caçava à noite sob a luz da lua a encontrou por acaso. Reconhecendo o corpo, ele o dividiu em catorze partes e as espalhou em diferentes locais. Ísis descobriu o que aconteceu e saiu em busca das partes novamente, navegando pelos pântanos em um barco de papiro. É por isso que as pessoas que navegam nesse tipo de barco não são atacadas por crocodilos, uma vez que essas criaturas mostram temor ou respeito à deusa.

O resultado do desmembramento de Osíris é a existência de muitos supostos túmulos do deus espalhados por todo o Egito, porque Ísis organizava um funeral cada vez que encontrava uma parte do corpo em um local diferente. A única parte do corpo de Osíris não encontrada por Ísis foi o membro masculino, porque ele fora imediatamento jogado ao rio e devorado pelos peixes. Por esse motivo, os egípcios se abstêm de ingerir certos peixes de água doce. Mas Ísis fez uma réplica do membro e consagrou o falo, em cuja honra os egípcios até hoje celebram um festival. Tempos depois, Osíris, vindo do outro mundo, chegou até Hórus, treinando-o para a batalha. Um dia, Osíris perguntou a Hórus o que ele considerava a  mais nobre das coisas. Quando Hórus respondeu: "Vingar o pai e a mãe pelo mal a eles causado", Osíris perguntou-lhe que animal seria o mais útil para a batalha; e quando o rapaz respondeu: "o cavalo", Osíris ficou surpreso e perguntou por que não seria o leão. Hórus respondeu que o leão seria um animal muito útil para o homem que precisasse de ajuda, mas que um cavalo era melhor para derrubar o ataque inimigo e aniquilá-lo. Osíris ficou muito satisfeito com a resposta, pois sentiu que Hórus já estava preparado. Conta-se que, assim como muitos estavam se aliando a Hórus, a concubina de Seth, Thoueris, também o fez; e uma serpente que a perseguiu foi cortada em pedaços pelos soldados de Hórus, e agora, em memória desse acontecimento, as pessoas atiram uma corda ao solo e a cortam em pedaços.
 A batalha durou muitos dias e Hórus venceu. Contudo, Ísis, a quem Seth foi entregue acorrentado, não ordenou sua execução, mas o deixou livre. Hórus não pôde aceitar isso e, enraivecido, arrancou o diadema real da cabeça da mãe; mas Toth colocou no lugar do diadema um elmo semelhante à cabeça de uma vaca.

   Seth acusou formalmente Hórus de ser uma criança ilegítima, mas com a ajuda de  Toth para defendê-lo, os deuses decidiram que Hórus era legítimo. Seth foi, portanto, derrotado em mais duas batalhas.
   Outras histórias semelhantes a essa são relacionadas a Seth; o modo como ele guiado pelo ciúme e hostilidade, praticou atos terríveis, e por trazer absoluta confusão sobre as coisas, encheu toda a Terra e o oceano com doenças, sendo punido depois. Mas a vingadora, irmã e mulher de Osíris, após extinguir e suprimir a loucura da fúria de Seth, não ficou indiferente `as dificuldades e lutas pelas quais ela passou, nem às suas andanças ou aos muitos atos de sabedoria e feitos de bravura: nem tampouco aceitaria ficar no esquecimento e silêncio por eles, mas integrou-se nas mais sagradas representações dos ritos e de suas experiências à época, e os santificou, tanto como uma lição de religiosidade quanto um encorajamento para homens e mulheres que se encontrem no meio de uma calamidade semelhante. Ela e Osíris, por suas virtudes transformados de semideuses em deuses,  não impropriamente desfrutam de honras duplas,  e seus poderes se estendem para todos os lugares, mas são maiores nas regiões acima e abaixo da Terra.

(deTraci Regula  é sacerdotida da Irmandade de Ísis desde 1983 e recebeu o título de reverenda do templo)

Paralelos com a Virgem Maria


  Embora a Virgem Maria não seja idolatrada pelos cristãos (é venerada tanto pelos católicos quanto pelos ortodoxos), o seu papel, como figura de mãe compassiva, tem paralelos com a figura de Ísis. O historiador Will Durant observou que "os primitivos Cristãos por vezes fizeram os seus cultos diante de estátuas de Ísis amamentando o filho Hórus, vendo nelas uma outra forma do nobre e antigo mito pelo qual a mulher (isto é, o princípio feminino) é a criadora de todas as coisas, tornando-se por fim, a "Mãe de Deus"".
  Isto é fruto da exposição dos primitivos cristãos à arte egípcia. Uma pesquisa com "os vinte principais Egiptólogos", conduzida pelo Dr. W. Ward Gasque, um erudito cristão, revelou que todos os participantes reconheceram "que a imagem de Ísis com o bebê Hórus influiu na iconografia cristã da Virgem e o Menino", mas que não houve nenhuma outra semelhança, como por exemplo, que Hórus tenha nascido de uma virgem, que tenha tido doze seguidores, ou outras.

Fonte: Wikipédia
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 " Eu estou com você, Lucius, movida pelas suas orações, eu, que sou a mãe do Universo, a senhora de todos os elementos, a primeira filha do tempo, a mais alta das divindades, a rainha dos mortos, a principal de todos os seres divinos, a forma única que funde todos os deuses e deusas; eu, que ordeno por meu desejo as alturas estreladas do céu, as brisas saudáveis do mar e o horrível silêncio dos que habitam o submundo: minha divindade é adorada em todo o mundo em formas variadas, em ritos diferentes e com vários nomes distintos. "
Ísis, a seu adorador Lucius, em Metamorfose, de Apuleius.

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